quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Emmanuel: Venezuela pede esclarecimento dos fatos; ex-mediadora lamenta fracasso

BOGOTÁ (AFP) — Depois que as Farc reconheceram não ter o menino Emmanuel, que haviam prometido entregar, a Colômbia afirma que o caso demonstra de que forma os guerrilheiros "enganam", enquanto a Venezuela pede que as circunstâncias sejam esclarecidas e a ex-mediadora colombiana lamenta o fracasso das negociações das quais participou.

O governo venezuelano pediu, através de um comunicado divulgado neste sábado, "o esclarecimento total das circunstâncias que cercam Emmanuel no curso das últimas semanas".

No documento, Caracas também faz votos pela libertação imediata dos outros dois reféns que seriam entregues junto com o menino Emmanuel: sua mãe, Clara Rojas, que engravidou no cativeiro de um guerrilheiro das Farc, e a ex-congressista Consuelo González, além de todos os seqüestrados em poder das Farc.

Enquanto isso, o ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, disse que com o reconhecimento da identidade de Emmanuel, "a comunidade internacional se dá conta da forma como as Farc enganam".

Por sua vez, o comissário de paz do governo, Luis Carlos Restrepo, chamou as Farc de "ladrões e bufões", pois "reconhecem sua mentira, mas agora para eles o seqüestrador é o governo".

De visita a Porto Rico, a senadora e ex-mediadora Piedad Córdoba lamentou o fracasso da gestão - da qual participou também o presidente venezuelano Hugo Chávez - que negociou a libertação dos três reféns.

Córdoba considerou que o fato inesperado de Emmanuel não estar em poder das Farc não deve atrapalhar as tentativas de libertação de Rojas e González.

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia reconheceram na última sexta-feira que a criança negociada é a mesma que o presidente Alvaro Uribe havia apontado, e que estava em um orfanato estatal registrada sob o nome de Juan Davi Gomes.

O pequeno Emmanuel, de três anos e meio, é filho de Rojas, seqüestrada pelas Farc em fevereiro de 2002 junto com a ex-candidata presidencial franco-colombiana Ingrid Bettancourt, para quem trabalhava como assessora.

Horas antes do pronunciamento das Farc, as autoridades colombianas revelaram o resultado de um exame de DNA feito com amostras do menor e comparado a material genético da mãe e do irmão de Clara Rojas, o que evidenciou o estreito parentesco entre eles.

No comunicado, as Farc argumentam que tiveram que tirar Emmanuel da selva porque ele "não poderia permanecer em meio às operações bélicas do Plano Patriota (ofensiva do exército), dos bombardeios e dos combates, com a movimentação constante e as contingências da selva".

"Por isso este menino, de pai guerrilheiro, foi deixado em Bogotá sob os cuidados de pessoas honradas, enquanto era negociado o acordo humanitário", explica o comunicado, com data de 2 de janeiro e assinado pelo "secretariado' (direção) das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

Além disso, os guerrilheiros acusam Uribe de ter seqüestrado Emmanuel em Bogotá, "com o infeliz propósito de sabotar sua entrega", a de sua mãe e de González a Chávez.

Em 31 de dezembro, após de esperar em vão que o grupo guerrilheiro informasse o local onde entregariam os reféns negociados, Uribe lançou a surpreendente hipótese de que na verdade as Farc não tinham o menino.

Chávez havia dito então ter recebido uma mensagem dos rebeldes, avisando que não poderiam cumprir com seu compromisso por causa de fortes operações militares na área onde entregariam os seqüestrados.

O presidente venezuelano não só duvidou da tese de Uribe, mas também o acusou de ter "dinamitado" a "operação Emmanuel", como batizou a recepção dos reféns, que seria acompanhada por delegados de Argentina, Brasil, Bolívia, Cuba, Equador, França e Suíça.

A família de Emmanuel declararam acreditar "totalmente" no resultado dos exames de DNA, e já avisaram que entrarão com processo para requerer sua custódia legal.

Apesar dos exames feitos em Bogotá, a promotoria determinou a realização de uma segunda análise com as amostras na Espanha.

O resultado desses exames ficarão prontos dentro de uma semana, informou no sábado o diretor do Instituto de Medicina Legal da Universidade de Santiago de Compostela (noroeste da Espanha), Ángel Carracedo, confirmando que as amostras já haviam chegado.

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