domingo, 21 de outubro de 2007

Governo da Bolívia reforça apoio a Chávez

LA PAZ (AFP) — O governo do presidente da Bolívia, Evo Morales, reforçou seu apoio ao aliado venezuelano Hugo Chávez, fortemente atacado pela oposição, que o acusa de ingerência, depois que este evocou um "Vietnã das metralhadoras" caso o presidente indígena seja derrubado ou assassinado.

"Em suas palavras (do presidente da Venezuela), existe uma expressão de solidariedade com o povo boliviano", afirmou o ministro da presidência, Juan Ramón Quintana, enquanto seu colega da Defesa, Walker San Miguel, também considerou que havia um sinal de "solidariedade continental".

O presidente venezuelano provocou grande tensão política na Bolívia, ao destacar em seu programa dominical de rádio e TV "Alô, Presidente" que a Venezuela "não ficará com os braços cruzados", caso a oligarquia "consiga derrubar Evo ou assassiná-lo".

Chávez advertiu que um eventual desfecho negativo contra seu amigo boliviano e estreito aliado político provocará o "Vietnã das metralhadoras, o Vietnã da guerra".

O líder venezuelano disse em várias oportunidades que seu regime defenderá o boliviano Evo Morales, que vem promovendo profundas reformas políticas e econômicas em seu país, apesar da resistência de liberais e grupos civil, oriundos fundamentalmente da rica região de Santa Cruz (leste).

Esses setores questionaram a nacionalização dos hidrocarbonetos e a reversão de terras improdutivas para distribuí-las entre os camponeses pobres e consideram que, com essa política de governo, o presidente está semeando a divisão do país.

Bolívia e Venezuela construíram estreitos laços políticos e comerciais, e La Paz aderiu à Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), em contraposição à Área de Livre Comércio das Américas (Alca), promovida pelos Estados Unidos.

A Venezuela ofereceu cerca de 700 milhões de dólares para explorar petróleo e gás na Bolívia e para a construção de uma planta de industrialização de gás. Além disso, já doou mais de 60 milhões de dólares para corporações militares e policiais, assim como municípios, cujos cheques são distribuídos pessoalmente por Morales.

O ministro Quintana, colaborador próximo de Evo Morales, defendeu que existem, nas frases de Chávez, "uma expressão de solidariedade com o povo boliviano, diferentemente de outros governos, aos quais interessam apenas a instabilidade e a regressão deste processo político que estamos vivendo neste país".

Enquanto o governo tenta minimizar o incidente, a oposição civil e política continua a fazer suas ácidas críticas ao presidente venezuelano e ao governo boliviano, por não frear a "intromissão" ao país.

O ex-presidente liberal Jorge Quiroga (2001-02), líder do partido Podemos, considerou que Chávez ameaça intervir na Bolívia, com o objetivo de impor uma agenda política própria, como, por exemplo, na Assembléia Constituinte que deve aprovar uma nova Carta Magna.

"O que (Chávez) está nos dizendo é: ou façam a Constituinte na Bolívia como me dá vontade, ou lhes mando as metralhadoras. Imagino que sejam os (fuzis russos) Kalashnikov que está comprando", disse o líder opositor.

Nos últimos anos, a Venezuela se rearmou com a compra de 24 aviões de caça, 53 helicópteros e 100.000 Kalashnikov (todos da Rússia) e planeja construir em seu país uma fábrica para os fuzis russos.

O dirigente do poderoso Comitê civil-empresarial de Santa Cruz, Branko Marinkovic, lamentou que "o presidente Morales não se pronuncie sobre as ameaças de Chávez".

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